17/07/2008

os "línguas"...

...e a gramática tupi no Brasil (século XVI)

Maria Cândida Drumond Mendes Barros

Museu Emílio Goeldi / Belém, Brasil

No Brasil, o tupi -chamado de língua brasílica nas crônicas jesuíticas- foi a língua da conversão religiosa, no período de 1549, data de chegada dos jesuítas, até 1759, quando a Companhia de Jesus foi expulsa da colônia e teve início uma política patrocinada pela administração colonial de oficialização do português no contato com os grupos indígenas. No contexto deste trabalho tentar-se-á reconstruir a política lingüística da Companhia de Jesus no Brasil no século XVI através de três questões:

1. identificação do intérprete tupi da missão, particularmente aqueles que eram membros da Companhia de Jesus. Com o levantamento espera-se rastrear a forma de aquisição do tupi no interior da ordem religiosa (pela oralidade ou pela escrita).

2. a presença de uma tradição de discurso público exortativo (com valores de advertência, clamor, etc.) tanto entre missionários como entre grupos tupi e a forma de sobreposição dessas duas tradições discursivas como parte da estratégia de conversão jesuítica.

Esses dois tópicos estão relacionados ao termo "língua", usado nas crônicas jesuíticas com o sentido de intérpretes tupi ou como pessoas com poder de oratória nesta língua.

3. conhecer os espaços de elaboração e difusão de uma escrita colonial tupi através do enfoque do uso colonial da gramática de Joseph Anchieta. O surgimento da escrita tupi será focalizado como indício da presença da "Ideologia das Letras" (Mignolo, 1992) que foi um movimento intelectual do Renascimento europeu, o qual privilegiou a escrita como forma de conhecimento. A ideologia das letras estava ancorada na escrita alfabética, na tecnologia da imprensa e na cultura dos livros. Tendo sido contemporânea à expansão do mundo colonial, a ideologia das letras tomou a escrita alfabética como marca da fronteira entre barbárie e civilização. Os povos indígenas da América, por não terem a escrita alfabética, representariam a barbárie. No caso dos grupos indígenas que possuíam algum sistema de escrita, como os Náhuatl e Maya, o papel colonizador no âmbito da linguagem ocorreu através da substituição desses sistemas autóctones de escrita pela alfabética.

Essas três questões levarão à caracterização da política lingüística da Companhia de Jesus pela diglosia tupi versus latim, línguas a serem caracterizadas pelos valores de externa versus interna. A língua brasílica era utilizada pela missão para comunicar-se com os de fora, enquanto o latim se definia como língua de domínio interno da Companhia.

A atenção recairá particularmente no século XVI, nos primeiros 50 anos dos jesuítas na colônia. A principal fonte de documentação será a obra de Serafim Leite sobre a história da Companhia de Jesus no Brasil. (...)

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