12/08/2008

Coleção Aryon Rodrigues


Esta coleção reúne uma amostra da produção científica de Aryon Dall'Igna Rodrigues, que, com uma carreira que se estende por mais de seis décadas, é um dos lingüistas que mais têm influenciado no desenvolvimento dos estudos das línguas indígenas brasileiras. Apesar de não se pretender exaustiva, a coleção visa a ser representativa das contribuições do autor em suas diversas áreas de atuação, incluindo a análise de línguas extintas como o Tupinambá e o Kipeá, a documentação de línguas ameaçadas de extinção (como o Xetá), estudos diacrônicos e classificatórios (como a reconstrução do Proto-Tupi-Guarani, que serve de base à classificação interna desta família) e trabalhos de cunho tipológico e teórico.

Sobre o autor:

Nascido no Paraná em 1925, Aryon Rodrigues já se dedicava a estudos de línguas indígenas no curso ginasial, onde teve entre seus professores o lingüista Rosário Farani Mansur Guérios, pioneiro dos estudos de línguas indígenas no Brasil. Atuando, ao longo dos anos, em diversas instituições de ensino superior e pesquisa (incluindo a UnB, o Museu Nacional/UFRJ e a Unicamp), Aryon Rodrigues tem orientado dezenas de dissertações e teses, sendo responsável direto ou indireto pela formação de diversas gerações de lingüistas dedicados aos estudos das línguas indígenas sul-americanas. São de sua autoria algumas das mais fecundas teorias sobre a classificação das línguas indígenas amazônicas, tal como a hipótese de relacionamento genético entre três dos maiores agrupamentos lingüísticos do continente: a família Karib e os troncos Macro-Jê e Tupí. Seus trabalhos estão entre os mais freqüentemente citados na nossa área. Seu livro Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas (Edições Loyola), publicado originalmente em 1986, foi escolhido pela Câmara Brasileira do Livro como um dos cem livros do século, ao lado de clássicos do pensamento brasileiro como Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e Os Sertões, de Euclides da Cunha (os únicos outros livros de lingüística incluídos são O dialeto caipira, de Amadeu Amaral, e Princípios de lingüística geral, de Mattoso Câmara Jr.). Apesar de aposentado, Aryon Rodrigues continua trabalhando ativamente no Laboratório de Línguas Indígenas da UnB (fundado por ele mesmo em 1999), dedicando-se aos mesmos objetivos que desde o princípio vêm norteando sua carreira: a pesquisa, o ensino e a formação de novos pesquisadores.

Obras disponíveis na Coleção:

Links externos:

Há vários recursos online que ajudam a traçar o perfil do autor e a familiarizar o leitor com sua obra. Um dos trabalhos mais recentes, escrito por Wilmar D'Angelis (Unicamp), foi publicado na revista Estudos da Língua(gem), em número em homenagem a Aryon Rodrigues dedicado especialmente às línguas indígenas. Um outro perfil foi recentemente publicado na imprensa — breve, mas bastante informativo, com foco na atuação de Aryon Rodrigues como professor. Há também várias opções para aqueles interessados em conhecer o autor através de suas próprias palavras, seja por meio de seus vários trabalhos de cunho acadêmico ou de divulgação científica, seja através das várias entrevistas dadas à mídia — caso do programa Viagem ao mundo das línguas indígenas, produzido pela Rádio Nederland (Holanda), em que se pode ouvir, em primeira pessoa, o relato de vários aspectos de sua vida e obra. Entre os trabalhos mais acessíveis ao público geral, alguns estão disponíveis online:

Agradecimentos:

Na criação da Coleção Aryon Rodrigues, a Biblioteca Digital Curt Nimuendaju conta com o apoio do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília, nas pessoas de Ana Suelly Arruda Câmara Cabral e Lidiane Szerwinsk Camargos.



fonte:
Biblioteca Etnolinguistica

TUPÃRAY - Violão e Voz

01- ixé a-nhe'eng.wma
02- oré rub.wma

03- nde rekó katu.wma
04- tupã xe monhangará.wma
05- tupã-sy.wma
06- nde rerá toikó.wma
07- abaeté o-berab.wma
08- arobiar tupã tuba.wma
09- xe a-só.wma
10- itaúna.wma
11- xe iara.wma
12- oro mombeú.wma
13- ixé a-îebyr.wma
letras (com tradução).html
Tupãray - Levi Moisés.zip

28/07/2008

sobre as saudades e os musicos tupinambá


trecho da obra de
GABRIEL SOARES DE SOUSA:

"TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL EM 1587"

C A P Í T U L O CLXII

Que trata das saudades dos tupinambás, e como choram e cantam.
Costumam os tupinambás que vindo qualquer deles de fora, em
entrando pela porta, se vai logo deitar na sua rede, ao qual se vai logo
uma velha ou velhas, e põem-se em cócaras diante dele a chorá-lo em
altas vozes; no qual pranto lhe dizem as saudades que dele tinham, com
sua ausência, os trabalhos que uns e outros passaram; a que os machos
lhes respondem chorando em altas vozes, e sem pronunciarem nada, até
que se enfadam, e mandam às velhas que se calem, ao que estas
obedecem; e se o cho-, rado vem de longe, o vêm chorar desta maneira
tôdas as fêmeas mulheres daquela casa, e as parentas que vivem nas
outras, e como acabam de chorar, lhe dão as boas-vindas e trazem-lhe de
comer, em um alguidar, peixe, carne e farinha, tudo junto posto no chão,
o que ele assim deitado come; e como acaba de comer lhe vêm dar as
boas-vindas todos os da aldeia um e um, e lhe perguntam como lhe foi
pelas partes por onde andou; e quando algum principal vem de fora,
ainda que seja da sua roça, o vêm chorar todas as mulheres de sua casa,
uma e uma, ou duas em duas, e lhe trazem presentes para comer,
fazendo-lhe as cerimônias acima ditas.
Quando morre algum índio, a mulher, mãe e parentas o choram
com um tom mui lastimoso, o que fazem muitos dias; no qual choro
dizem muitas lástimas, e magoam a quem as entende bem; mas os
machos não choram, nem se costuma entre eles chorar por ninguém que
lhes morra.
Os tupinambás se prezam de grandes músicos, e, ao seu modo,
cantam com sofrível tom, os quais têm boas vozes; mas todos cantam
por um tom, e os músicos fazem motes de improviso, e suas voltas, que
acabam no consoante do mote; um só diz a cantiga, e os outros
respondem com o fim do mote, os quais cantam e bailam juntamente
numa roda, na qual um tange um tamboril,
em que não dobra as pancadas; outros trazem um maracá na mão, que é
um cabaço, com umas pedrinhas dentro, com seu cabo por onde pegam;
e nos seus bailes não fazem mais mudanças, nem mais continências que
bater no chão com um só pé ao som do tamboril; e assim andam todos
juntos à roda, e entram pelas casas uns dos outros; onde têm prestes
vinho, com que os convidar; e às vezes anda um par de moças cantando
entre eles, entre as quais há também mui grandes músicas, e por isso
mui estimadas.
Entre este gentio são os músicos mui estimados, e por onde quer
que vão, são bem agasalhados, e muitos atravessaram já o sertão por
entre seus contrários, sem lhes fazerem mal.

trecho de "TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL" - 1587


"Tratado Descritivo do Brasil em 1587"

de GABRIEL SOARES DE SOUSA


C A P Í T U L O CLVI

Que trata da luxúria destes bárbaros.

São os tupinambás tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que
não cometam; os quais sendo de muito pouca idade têm conta com
mulheres, e bem mulheres; porque as velhas, já desestimadas dos que
são homens, granjeiam estes meninos, fazendo-lhes mimos e regalos, e
ensinam-lhes a fazer o que eles não sabem, e não os deixam de dia, nem
de noite. É este gentio tão luxurioso que poucas vezes têm respeito às
irmãs e tias, e porque este pecado é contra seus costumes, dormem com
elas pelos matos, e alguns com suas próprias filhas; e não se contentam
com uma mulher, mas têm muitas, como já fica dito pelo que morrem
muitos de esfalfados. E em conversação não sabem falar senão nestas
sujidades, que cometem cada hora; os quais são tão amigos da carne que
se não contentam, para seguirem seus apetites, com o membro genital
como a natureza formou; mas há muitos que lhe costumam pôr o pêlo de
um bicho tão peçonhento, que lho faz logo inchar, com o que têm
grandes dores, mais de seis meses, que se lhe vão gastando espaço de
tempo; com o que se lhes faz o seu cano tão disforme de grosso, que os
não podem as mulheres esperar, nem sofrer; e não contentes estes
selvagens de andarem tão encarniçados neste pecado, naturalmente
cometido, são muito afeiçoados ao pecado nefando, entre os quais se não
têm por afronta; e o que se serve de macho, se tem por valente, e contam
esta bestialidade por proeza; e nas suas aldeias pelo sertão há alguns que
têm tenda pública a quantos os querem como mulheres públicas.

Como os pais e as mães vêem os filhos com meneios para conhecer
mulher, êles lhas buscam, e os ensinam como a saberão servir; as fêmeas
muito meninas esperam o macho, mormente as que vivem entre os
portugueses. Os machos destes tupinambás não são ciosos; e ainda que
achem outrem com as mulheres, não matam a ninguém por isso, e
quando muito espancam as mulheres pelo caso. E as que querem bem
aos maridos, pelos contentarem, buscam-lhes moças com que eles se
desenfadem, as quais lhes levam à rede onde dormem, onde lhes pedem
muito que se queiram deitar com os maridos, e as peitam para isso; coisa
que não faz nenhuma nação de gente, senão estes bárbaros.

25/07/2008

artigo sobre

ÍNDIOS TUPINAMBÁS

O português do século das Descobertas era de aspereza independente, de tempera rija e coração duro. Ás suas prescrições penais, não cabia o sentimento de piedade. O sofrimento alheio não lhe comovia, nem lhe causavam aversão as cenas de penar. Crueldades, que hoje envilecem um caráter, naquele tempo eram sem significação. Os aventureiros atirados sobre as plagas destas terras longínquas, não se subordinavam às leis que regem e guiam o homem de uma sociedade. Uma vez aqui, nesta natureza virgem, eles se manifestaram de acordo com seus sentimentos mais egoístas e indisciplinados. Achavam que não podiam respeitar a gente que consideravam bárbara, indigna da consideração cristã e passíveis de escravidão.

Talvez também, porque não carregassem ouro, nem riquezas em seu poder, ou porque os índios não desenvolviam nenhuma atividade que pudesse interessar aos povos cobiçosos que saíram à conquista do mundo. Por estes e tantos outros motivos, o índio no início do século XVI, foi combatido implacavelmente, resultando deste choque o desaparecimento de tribos inteiras, enquanto outros penetravam pelos sertões, fugindo das armas assassinas dos portugueses.

As tribos que permaneceram no litoral, forçosamente teve de se adaptar ao invasor, foram então dominados e prejudicados com a perda das conquistas do espírito e destituídos de seus bens materiais. Passaram a viver à sombra do povo conquistador, sombras de um colorido tão acentuado que, muitas vezes, marcavam em seu próprio perfil a silhueta dos dominadores.

E assim, prossegue através dos tempos as relações entre índios e o homem brancos....

Parece, que para nós, que nos interessamos pela Solução do Problema do Indígena Brasileiro, é conveniente reavivarmos um pouco a sua história...


TUPINAMBÁS

O termo tupinambás é empregado neste trabalho para designar o conjunto de grupos tribais descritos sob este nome nas fontes compulsadas. Assim, estão compreendidos neste estudo os grupos tribais Tupi que, na época da colonização do Brasil, entraram em contato com os homens brancos no Rio de Janeiro e na Bahia, e os grupos tribais Tupis que depois povoaram o Maranhão, o Pará e a Ilha dos Tupinambarana. Todos as tribos Tupis constituíam ramos de um mesmo tronco comem e provavelmente tiveram um mesmo centro de dispersão.


DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

As tribos sob o nome de Tupinambás ocuparam do século XVI ao século XVIII, regiões situadas tanto no Brasil meridional, como no Brasil setentrional.


TUPINAMBÁS NO RIO DE JANEIRO

Os Tupinambás que habitavam esta região, exerciam domínio sobre amplos territórios. Não há concordância absoluta quanto à extensão da área costeira que ocupavam. Alguns historiadores informam que seria cinqüenta léguas da costa, do Cabo de São Tomé até Angra dos Reis. Contudo, Anchieta que conheceu intimamente a região, situava os dois limites em Cabo Frio e São Sebastião. Outros pesquisadores admitem que suas povoações se estendiam de Ubatuba a Cabo Frio. Também se concebia que dominavam uma região de vinte e oito milhas de comprimento ao longo do rio Paraíba.

Os Tupinambás tinahm fronteiras com outras tribos, com as quais viviam continuamente em guerra:


Ao norte: Goitacás

Ao sul: Tupiniquins


No interior: fronteiras com os Carijós, Maracajás e os Guainás. Os Maracajás foram atacados diversas vezes pelos tupinambás e forma praticamente exterminados.


NA BAHIA

Quando os portugueses iniciaram a colonização na Bahia, os Tupinambás dominavam extensas áreas desta região. Toda a zona costeira do São Francisco até junto dos Ilhéus estava sujeita ao domínio de tribos locais. Também dominavam o interior, pela margem direita do São Francisco e alguns territórios situados ao longo do rio. Mas há diga que os Tupinambás eram senhores de ambas adjacências do rio São Francisco.

Os Tupinambás aqui, tinham fronteiras com tribos inimigas:

Ao norte: Caetés e os Potiguares, pelo lado do rio São Francisco

Ao sul: ficavam os Tupiniquins e posteriormente os Aimorés, que subiam o litoral em direção ao norte, vindos do rio Caravelas.

Pelo sertão: os Tupina e diversas tribos Tapuias. A relação dos Tupinambás com estes grupos era belicosa.

Os índios que ficaram vivendo entre os brancos, no litoral sofreram um processo letal de amplas proporções. Na Bahia, os jesuítas chegaram a contar com mais de 40.000 índios cristãos. Em 1585, estavam reduzidos a 10.000. As três quartas partes restantes distribuíram-se por itens diversos: falecidos, foragidos ou escravos dos colonos. Em resumo, nos fins do século XVI e começo do Século XVII, era muito pequeno o contingente de Tupinambás na Bahia.


NO MARANHÃO E PARÁ

Os índios Tupis que povoaram estes territórios procediam provavelmente da Bahia e Pernambuco. Tiveram contato com os portugueses e adquiriram um conhecimento íntimo do processo da colonização portuguesa. As migrações ocorreram em ondas sucessivas depois de 1562. Primeiro o movimento caminhou para o interior e depois tomou a direção do norte, detendo-se na foz do Amazonas. Delas participaram principalmente os índios Caetés e Tupinembás, assim como também os Potiguares. No Maranhão e no Pará continuaram em grande parte solidários. Com exceção dos que povoaram a região da serra de Ibiapaba, os demais conservaram-se aliados e amigos. Contudo, não se pode dizer o mesmo quanto à ligação destes grupos locais com os Caetés.


NA ILHA DE TUPINAMBARANAS

A fixação das tribos Tupi na Ilha de Tupinambarana parece ter ocorrido ao mesmo tempo que o povoamento do Maranhão e do Pará. Os moradores da ilha de Tupinambara eram índios que fugiram do rigor com que os portugueses o subjugavam. O movimento migratório teria começado no ano de 1600 e foi assumindo as proporções de um êxodo.

Durante a migração, os Tupinambás dividiram-se em três bandos. Os que se fixaram no Amazonas atingiram primeiramente o rio Madeira. Contudo, alguns conflitos com os espanhóis obrigaram-nos a emigrar novamente. Neste movimento atingiram a ilha dos Tupinambaranas,

Os Tupinambás mantiveram relações belicosas com os primitivos povoadores da região. Os Aratu, Apacuitara, Yara, Godui, Curiató, submeteram-se a eles. Segundo uma fonte consultada, o organização social dos Tupinambás ter-se-ia desenvolvido no sentido senhorial, ou seja, os povos ali encontrados eram seus vassalos e eles lhe pagavam tributos.


ATIVIDADES FEMININAS/MASCULINAS


ATIVIDADES FEMININAS

Todos os trabalhos de horticultura, desde o plantio até a semeadura eram de competência exclusivamente feminina. Participavam também com os homens da pesca, onde mergulhavam para apanhar o peixe apanhado por eles. Todas as operações da fabricação de farinhas era realizado pelas mulheres, assim como a preparação das raízes e do milho para fazer a salivação (esta realizada por índias virgens de 10 a 12 anos). A fabricação do azeite de coco, a fiação do algodão, a tecelagem das redes simples e cestas trançadas de junco e vime eram tarefas realizadas por elas.

Também participavam da preparação do barro, necessário à produção de panelas, alguidares, os grandes potes para o caium, assim como a ornamentação e o envidramento. A domesticação de aves, cachorros, galinhas constituíam atividades femininas. Os serviços domésticos, que consistia na organização do lar, a manutenção dos dois fogos ao lado da rede do chefe da família e o abastecimento de água tudo era feito pelas mulheres.

Elas carregavam os filhos e todo o equipamento de caça, pois os homens precisavam ficar livres para defenderem-se a si próprios e a família em tal empreendimentos. Somente no período de gravidez evitavam os fardos muito pesados e as atividades árduas. Na guerra, eram elas que recolhiam as flechas para os guerreiros.

No parto, as mulheres ajudavam-se mutuamente.

A depilação e a tatuagem dos homens pertencentes ao próprio lar, cabiam às mulheres que o constituíam.


ATIVIDADES MASCULINAS

Aos homens, eram entregues a lavoura já preparada. A caça era uma atividade exclusivamente masculina. A pescaria também era uma atividade deles. Fabricavam ainda as canoas, os arcos, as flechas, tacapes e seus adornos. Eram responsáveis pela obtenção do fogo e desempenhavam papel importante na construção da maloca.

O corte da lenha era realizada pelo braço forte do homem. Retinham ainda, os conhecimentos da fabricação das redes lavradas. Teciam cestos com folha de palmeira e com caniços sem nós.

Eventualmente, os homens auxiliavam as mulheres no parto. Além disso, os homens protegiam suas mulheres de modo permanente.


Texto pesquisado e desenvolvido por

ROSANE VOLPATTO

fonte: http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendatupinambas.htm



10 mandamentos da lei de deus

(compilados de um manuscrito do
século XVIII)

Dez Tupã asé rekomoñangába:


I

Eimoeté oiepé Tupã

II

Añeté ereteñeymé Tupã réra renói

III

Eimoté domingo ára marangatekoabeýma bé

IV

Eimoeté nde ruba, nde sý abé

V

Eporapitiymé

VI

Eporopotarymé

VII

Nde mondarymé

VIII

Nde remoëumé abá resé

IX

Eñemomotarymé nde rapichára remirekó resé

X

Eñemomotarymé abá mbaé resé



livros de gramatica tupi


fonte:
http://tupi.wikispaces.com/TPN+-+gram%C3%A1tica

dicionário tupi–português

Bem-vindo ao dicionário tupi–português

Mais propriamente o tupinambá falado na costa do Brasil à época da chegada dos portugueses. Também chamado: tupi antigo, língua brasílica, abanhe'enga.
A ortografia a ser adotada para o tupinambá é a do Método Moderno de Tupi Antigo, do prof. Eduardo Navarro.

Escolha um dos links abaixo para acessar o Dicionário Wiki:


Para acessar o índice de Letras do Dicionário
Clique Aqui


Para acessar a página de 1 letra específica
Clque na letra correspondente
A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z

fonte:
http://tpn-por.wikispaces.com

arquivos .pdf de J B Rodrigues

João Barbosa Rodrigues
  • Poranduba amazonense, ou kochiyma-uara porandub, 1872-1887. Rio de Janeiro: Typ. de G. Leuzinger & Filhos. [download]
  • Vocabulario indigena comparado para mostrar a adulteração da lingua (complemento do Poranduba Amazonense). Publicação da Bibliotheca Nacional. Rio de Janeiro: Typ. de G. Leuzinger & Filhos. [download]

fonte:
Biblioteca Digital Curt Nimuendaju
A Biblioteca Digital Curt Nimuendaju é uma iniciativa que visa à criação de uma coletânea digital de artigos e livros raros sobre línguas e culturas indígenas sul-americanas, com o objetivo de torná-los mais acessíveis a pesquisadores e outros interessados. [leia mais]

música em tupi-antigo

no youtube

http://br.youtube.com/watch?v=fqxnx5pWpOU&eurl=http://tupi.wikispaces.com/TPN+-+exerc%C3%ADcios+de+tradu%C3%A7%C3%A3o+-+Quyquyho+%28Geraldo+Esp


Núcleo Orgânico Performático
interpretando:

Kykyó
(de Geraldo Spí­ndola)


com versão em Tupi do professor de línguas indígenas
Eduardo Navarro

Kykyó o'ar yby pyterype, ybytyra amongoty
Kykyó osepiak opá poranga, abá-etá anhõ iké
Abá Ameriká ota'ymonhang, Tupi Guarani

Kykyó omanõ-oryb yby me'enga i xupé

Guarani osó ybaté
Tupi yby-pe

E'i eremba'e i anama o rekoaba pupé
O-io-obaiti iepé Ameriká y rupi
O maramonhang karaíba supé tapy'yia rara

Tasy-etá oiporará ybypytera pupé
Tupi oiké Amazonas-pé
Guarani osenõi bé

Kykyó, ó



Petfone - Anabel Andrés
Giroí­te - Jamil Giúdice
Clavas de Chão - Andréa Pimentel, Daniela Lasalvia, Luiza Viegas, Mauro Nascimento, Sandro Dozena e Ully Costa.
Voz - Daniela Lasalvia
Vocais - Todos


[obs.: a pronúncia do "y" está incorreta]

24/07/2008

O QUE VI COM MEUS OLHOS

“Digo apenas simplesmente o que vi com meus olhos”

Chefe Momboré-uaçu (Aldeia de Essauap, Maranhão - 1612):

Vi a chegada dos peró [portugueses] em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses, fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que nossos companheiros de Pernambuco reputavam grandemente honroso. Mais tarde, disseram que nos devíamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e edificarem cidades para morarem conosco.

E assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só nação. Depois, começaram a dizer que não podiam tomar as raparigas sem mais aquela, que Deus somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar sem que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários paí [padres]. Mandaram vir os paí; e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os nossos e a batizá-los. Mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí podiam viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. E, assim, se viram os nossos constrangidos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos com os escravos capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda a nação; e com tal tirania e crueldade a trataram, que os que ficaram livres foram, como nós, forçados a deixar a região.

Assim aconteceu com os franceses. Da primeira vez que viestes aqui, vós o fizestes somente para traficar. Como os peró, não recusáveis tomar nossas filhas e nós nos julgávamos felizes quando elas tinham filhos. Nesta época, não faláveis em aqui vos fixar. Apenas vos contentáveis com visitar-nos uma vez por ano, permanecendo entre nós somente quatro ou cinco luas. Regressáveis então a vosso país, levando os nossos gêneros para trocá-los com aquilo de que carecíamos.

Agora já nos falais de vos estabelecerdes aqui, de construirdes fortalezas para defender-vos contra os vossos inimigos. Para isso, trouxestes um Morubixaba e vários paí. Em verdade, estamos satisfeitos, mas os peró fizeram o mesmo.

Depois da chegada dos paí, plantastes cruzes como os peró. Começais agora a instruir e batizar tal qual eles fizeram; dizeis que não podeis tomar nossas filhas senão por esposas e após terem sido batizadas. O mesmo diziam os peró. Como estes, vós não queríeis escravos, a princípio; agora os pedis e quereis como eles no fim. Não creio, entretanto, que tenhais o mesmo fito que os peró; aliás, isso não me atemoriza, pois velho como estou nada mais temo. Digo apenas simplesmente o que vi com meus olhos.



("Os Tupinambá e a França Equinocial"

Por Beatriz Perrone-Moisés (antropóloga, USP):

Esse discurso foi registrado pelo missionário Claude d’Abbeville, em sua História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão (1614; aqui transcrito da tradução brasileira por Sérgio Milliet, São Paulo: Martins, 1945, p. 115-116). Proferido diante de um grupo de franceses que, em missão diplomática, tratavam de estabelecer a aliança com os povos indígenas da região, teve um grande impacto sobre os presentes. A resposta que lhe deu o intérprete-embaixador dos franceses, Des Vaux, eventualmente permitiu que a aliança fosse selada e que os franceses instalassem, no Maranhão, a sua França Equinocial. A colônia foi conquistada pelos portugueses dois anos mais tarde. Sob o domínio dos peró, os Tupi da região tiveram o mesmo destino que os de Pernambuco, tal como o descreveu Momboré-uaçu. Alguns anos mais tarde, já não havia registro de nenhuma aldeia Tupi livre na costa da colônia do Brasil.)

obras de pe. anchieta



Dança dos Índios Tupinambás
Jean de Léry



Para consultar a
Lista de Obras de Pe. Anchieta
do site Domínio Público

Clique Aqui


Para baixar as obras separadamente
Clique no link correspondente à obra desejada
(download pelo site Dominio Publico):

Auto Representado na Festa de São Lourenço

Auto da Festa de São Lourenço

Carta da Companhia

Feitos de Mem de Sá

Poema da Virgem

Poema dos Feitos de Mem de Sá

fonte:
www.dominiopublico.gov.br

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Coimbra: Antonio Mariz.
[Cópia digital do exemplar da primeira edição pertencente à Biblioteca Nacional do Rio]

fonte:
Biblioteca Etno-Linguistica
Curt Nimuendaju


18/07/2008

Tratado descritivo do Brasil em 1587


Tratado descritivo do Brasil em 1587, de Gabriel Soares de Souza

canibalismo indigena brasileiro


O sabor da própria carne

Por Ricardo Arnt
[fonte:
Revista SuperInteressante, Agosto de 1997]

O canibalismo, ritual milenar dos índios brasileiros, já foi uma cerimônia sangrenta, que misturava bravura, ódio e até respeito pelo inimigo. Hoje, sobrevive em cerimônias misteriosas e ultra-elaboradas em que são comidos os restos dos mortos queridos.

Dificilmente haverá assunto mais cercado de preconceito. Os brancos, cristãos e ocidentais, vêem a antropofagia como símbolo supremo da selvageria indígena. Os antropólogos, normalmente, não gostam de falar a respeito porque têm medo de expor os índios. Os índios, por sua vez, quanto mais "civilizados", mais têm medo de ser julgados bárbaros. Assim, o canibalismo virou tabu.

A Antropologia desconhece, no passado ou no presente, uma sociedade que consumisse carne humana como alimento. O canibalismo sempre foi simbólico. Ou se devoram os inimigos, como faziam os tupis do litoral brasileiro no século XVI, em impressionantes cerimônias coletivas, ou se pratica uma antropofagia funerária e religiosa. Aí, a ingestão das cinzas dos mortos homenageia e ajuda a alma daquele que morreu. Esse ritual faz parte, ainda hoje, dos costumes dos yanomamis.

Se as cerimônias tupis apavoram pelo que tinham de brutal, o ritual dos yanomamis é capaz de chocar o senso comum dos brancos pelo que tem de inesperado. Para um yanomami, comer as cinzas do amigo morto é uma prova de respeito e afeto. O mais desconcertante desse canibalismo que perdura é exatamente isso: ele não é um gesto de ódio, mas de amor.

Agora, a SUPER vai pôr você em dia com os rituais antropofágicos dos índios brasileiros. Desde a bravura dos guerreiros que devoravam inimigos para herdar sua valentia em combate, até a devoção dos praticantes do canibalismo funerário, movido pela compaixão com os mortos. Sem temores nem tabus.

Comendo a coragem do inimigo

Em 1500, os europeus se espantaram com a belicosidade dos tupinambás, que habitavam a costa brasileira de São Paulo ao Ceará. Os índios, da família lingüística tupi, moravam em aldeias de 2 000 habitantes, mantinham relações pacíficas entre si e faziam alianças para atacar outras aldeias.

Em 1553, o alemão Hans Staden naufragou em Itanhaém, litoral de São Paulo, e ficou nove meses na aldeia do cacique Cunhambebe, na região de Mangaratiba, Rio de Janeiro. Ele mesmo participou de uma expedição de canoa até Bertioga, em São Paulo, para capturar inimigos. Mortos e feridos foram devorados no campo de batalha e durante a retirada. Os cativos foram levados para a aldeia, para que as mulheres pudessem participar do ritual antropofágico.

Segundo o antropólogo Carlos Fausto, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, "o valor fundamental da sociedade tupinambá era predar o inimigo". Fausto enfatiza: "Predação repetida e sem fim. Eles viviam para guerrear." A lógica da guerra não era o extermínio e sim o cultivo da inimizade. "O objetivo era valorizar-se apropriando-se das qualidades do oponente."

O sacrifício honrava vítima e carrasco. A execução podia demorar meses. O captor cedia sua casa ao cativo. Cedia também uma irmã, ou filha, como esposa.

O preso circulava pela aldeia e era exibido aos vizinhos. A execução atraía convidados, em festas e danças regadas a cauim (uma bebida fermentada à base de mandioca). O preso recebia a chance de vingar sua morte, antecipadamente. Pintado e decorado, era amarrado pelo ventre com a mussurama (uma corda de algodão) e recebia pedras para jogar contra a audiência. Insultava a todos, provando sua coragem.

O carrasco vestia um manto de penas, imitava uma ave de rapina e usava uma ibirapema (borduna). O padre Anchieta conta, em suas Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões, que viu um preso desafiar o algoz, aos gritos : "Mata-me! Tens muito que te vingar de mim! Comi teu pai. Comi teu irmão! Comi teu filho! E meus irmãos vão me vingar e comer vocês todos."

Golpe de misericórdia

Um golpe na nuca rompia o crânio. Acudiam mulheres velhas, com cabaças, para recolher o sangue. Tudo era consumido por todos. As mães besuntavam os seios de sangue para os bebês também provarem do inimigo. O cadáver era esquartejado, destrinchado, assado numa grelha e disputado por centenas de participantes — que comiam pedacinhos. Se fossem muito numerosos, fazia-se um caldo dos pés, mãos e tripas cozidas. Os hóspedes retornavam às aldeias levando pedaços assados.

Só o carrasco não comia. Entrava em resguardo, em jejum, e, após a reclusão, adotava um novo nome. O acúmulo de nomes era sinal de bravura: indicava o número de inimigos abatidos. Grandes guerreiros tinham até 100 apelidos. Comer o inimigo era afirmar potência. "O canibalismo exprimia a força do predador, na sua capacidade máxima", diz Carlos Fausto. "Para eles, os seres potentes eram devoradores. Como o jaguar."

A catequese dos brancos acabou com esse canibalismo guerreiro. O ritual pertencia a uma cultura estável, que foi desestruturada até em grupos mais arredios. A última tribo tupi contatada no Brasil, em 1994, os tupi-de-cunimapanema, no norte de Santarém, no Pará, não tinha vestígio de antropofagia.

No purê de banana, as cinzas dos amigos

Há 25 000 yanomamis nas montanhas da fronteira do Brasil com a Venezuela, numa das áreas mais remotas e intactas do mundo. Desses, 10 000 estão em território brasileiro. Moram em mais de 100 aldeias, falam quatro dialetos e mantêm um estado guerra intermitente uns com os outros. Para todos eles, não há morte natural. Morre-se pela ação dos inimigos ou pela trama de um feiticeiro. Portanto, toda morte requer vingança.

Esses yanomamis praticam o endocanibalismo (comem gente da própria tribo). É uma cerimônia que reitera do compromisso de vingar o morto. "O ritual organiza um estado de hostilidade permanente", diz o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do Museu Nacional. "A cerimônia é quase uma eucaristia." Só os amigos sem laços de consangüinidade são convidados para o funeral.

O cadáver é pranteado e colocado sobre uma plataforma, fora da aldeia. A carne é separada dos ossos e cremada. Os ossos são limpos e moídos num pilão até virar cinza. No funeral, os vizinhos e aliados comem as cinzas com purê de banana.

"Ao contrário do culto cristão do ancestral", explica Viveiros de Castro, "a antropofagia yanomami realiza o apagamento total do antepassado". Tudo o que era do morto é destruído e seu nome deixa de ser pronunciado. Como o espírito deseja companhia, atraindo os vivos para a morte, todas suas posses e traços são destruídos para que ele viaje para o mundo dos mortos — que fica nas "costas do céu". Até pegadas, na mata, são apagadas.

Predação sem ódio

Até o final dos anos 60, os waris de Rondônia também praticavam o endocanibalismo. O ritual funerário era ultra-elaborado. Os mortos eram pranteados durante dias, com a família agarrada ao cadáver. Convidavam-se os amigos de outras aldeias para o funeral. O corpo era cortado e os ossos, quebrados. Alguns órgãos eram cremados. Fígado e coração eram assados embrulhados em folhas. Desfiados e estirados em uma esteira, eram comidos, entre lágrimas, com pão de milho assado. Quase sempre, o corpo já estava se deteriorando.

Os waris apreciam carne gordurosa. Mas não tocavam no tronco humano, cheio de gordura, porque a cerimônia era simbólica, não gastronômica. "Eles comiam naquinhos, pedacinhos, da carne do morto", explica a antropóloga Aparecida Villaça. Se o corpo estivesse realmente estragado, era queimado. O crânio era quebrado, os ossos moídos e as cinzas comidas com mel. O luto durava seis meses, durante os quais a família queimava e destruía as posses do morto até esquecer seu nome.

Para a antropóloga, há uma continuidade entre o endocanibalismo e o exocanibalismo dos waris, que comiam os inimigos para expropriar-lhes a humanidade (veja na página anterior). "Comer é a prova irrefutável da não-humanidade da coisa comida. Tanto para os inimigos, que não eram considerados gente, quanto para os parentes, cuja morte é difícil de aceitar. O endocanibalismo dos waris é uma predação sem hostilidade. Também aí, comer o morto acaba com sua humanidade."

Para saber mais

Araweté: Os Deuses Canibais. Eduardo Viveiros de Castro, Rio, Edições UFRJ/Zahar, 1986.

Comendo Como Gente. Aparecida Villaça. Rio, Edições UFRJ/Ampocs, 1992.

História dos Índios no Brasil. Org. Maria Manoela Carneiro da Cunha. São Paulo, Fapesp e Companhia das Letras, 1992.

Mana. Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Museu Nacional, UFRJ.Muitos insultos, segundos antes do golpe fatal

Na ilustração de Theodore de Bry (inspirada pela estética do Renascimento europeu), o prisioneiro, no centro da aldeia, xinga e ofende os captores, segundos antes de receber o golpe da borduna.

A receita é cozinhar antes de assar

Com a participação de toda a tribo o cadáver era esquartejado, destrinchado, cortado em pedaços e cozinhado em um caldeirão, antes de ser assado em postas. No canto à direita, Hans Staden observa, perplexo.

A grande comilança antropofágica

Homens, mulheres e crianças bebem cauim e devoram, animadamente, o inimigo assado na grelha. Até 2 000 índios celebravam o ritual comendo pequenos pedaços do corpo do prisioneiro. Atrás, Staden, agita os braços, horrorizado.

O bem mais precioso dos vivos

Os yanomamis guardam as cinzas dos mortos em cabaças lacradas dentro de cestos. São consumidas aos poucos em sucessivas cerimônias. O canibalismo garante a ida para o céu de quem é comido.

Memória carnal

José Augusto Kaxinawá, de 71 anos, comeu os cadáveres de uma tia e dois primos

A passagem para o além da morte

Os kaxinawá eram canibais até os anos 50, mas só comiam as pessoas queridas e notáveis. Quem não tinha parentes nem boa reputação era queimado. Doenças dos brancos desestruturaram a tribo e acabaram com os rituais.

Os waris, da fronteira de Rondônia com a Bolívia, foram pacificados em 1962. Até 1945 devoraram os seringueiros que invadiam suas terras.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o preço da borracha subiu e seringueiros invadiram as terras waris, no Rio Guaporé, em busca de mais mercadoria. Houve muitos confrontos, com um saldo macabro. Cadáveres mutilados, sem cabeça, braços ou pernas, eram encontrados na área. Expedições partiram da cidade de Guajará-Mirim para punir os índios.

"Eles comiam pedaços dos inimigos porque não os consideravam humanos", diz a antropóloga Aparecida Villaça, que estudou o grupo e escreveu o livro Comendo Como Gente. "Assar e comer inimigos era uma forma de predação que expropriava a condição humana deles."

Os matadores não comiam. Ficavam em resguardo até dois meses, deitados na rede, guardando a energia do combate e abstendo-se de relações sexuais. "Era uma digestão simbólica". Para os waris, o espírito do inimigo "cola" no matador. Tanto que quando um guerreiro é morto pelo inimigo vira um deles.

Hoje, o canibalismo guerreiro dos waris terminou por absoluta falta de inimigos. As tribos rivais foram dizimadas pelas doenças de branco.

Só restaram os brancos: agora, os 1 800 waris têm a assistência de missionários católicos e protestantes, além dos funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Candido Portinari fez o desenho ao lado em 1941, inspirado na tentativa de Hans Staden de convencer o chefe Cunhambebe a não comer carne humana. A resposta do índio, relatada no livro Duas Viagens ao Brasil, entrou para a História.

"Cunhambebe tinha à sua frente um grande cesto cheio de carne humana. Comia uma perna. Segurou-m’a diante da boca e perguntou-me se também queria comer. Respondi: ‘Um animal irracional não come um outro parceiro; um homem deve devorar outro homem?’. Mordeu-a, então, e disse: ‘Jauára ichê. Sou um jaguar. Está gostoso’. Retirei-me dele, à vista disso".

Os arawetés são uma sociedade de 230 índios, contatados em 1976, que fala uma língua tupi. Vivem ao sul de Altamira, no Pará. Não são canibais, preferem ser canibalizados.

Para os arawetés, a alma deve ser devorada pelos deuses, chamados mái. Só então os mortos podem ressuscitar e virar, eles também, divindades no céu. Assim, sem comer carne humana, incorporaram a tradição canibal tupi de um modo original. Eles não são comedores — eles são a comida. Ou melhor: sua alma é a comida dos deuses.

O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que pesquisa o grupo desde 1981 e escreveu Araweté:

Os Deuses Canibais, explica que isso é uma mistura entre dois tipos de canibalismo. "É exocanibalismo porque eles são devorados simbolicamente por deuses não-humanos, que não pertencem à tribo. E é também endocanibalismo porque eles próprios viram deuses depois de comidos." Portanto, é como se voltassem para comer sua própria gente.

Viveiros de Castro admite que pode haver mais canibais entre os 53 povos indígenas da Amazônia dos quais a Funai tem indícios, mas ainda não contatou. Mas é uma possibilidade remota.

Os índios não contatados se reduzem a pequenos bandos arredios. Não têm tempo nem estrutura para produzir rituais complexos que duram dias e exigem tradições elaboradas.

"A estrutura social em que se baseavam os ritos canibais já desapareceu."

No Acre, há 4 000 índios kaxinawá, da família lingüística pano, vivendo nos rios Juruá, Purus, Tarauacá e Envira. Até 1955, muitos comiam os mortos queridos.

José Augusto Kaxinawá, 71 anos, da aldeia Recreio, no Rio Purus, lembra-se muito bem. Comeu uma tia e dois primos, assados. Foi um ato de amor para ajudar as almas a viajar até o céu pela estrada do arco-íris.

A antropóloga inglesa Cecilia McCallum, da London School of Economics, que estuda o grupo kaxinawá desde 1983, explica para a SUPER: "Eles acreditam que, no céu, as almas vivem em festa. Não têm dor de cabeça nem história, e não morrem mais."

Em 1955, a tribo foipraticamente arrasada por doenças. Rituais, cantos e rezas sumiram. Antes, vigorava o canibalismo funerário.

O morto era dobrado, colocado numa grande panela de barro e cozinhado por três dias. Depois, era quebrado em pedaços e assado. Todos comiam, com aipim e banana verde cozida. Se fosse um homem, suas mulheres e ex-amantes extraíam os órgãos genitais e, juntas, comiam tudo. Se fosse mulher, os maridos e ex-amantes faziam a mesma coisa. "Assim, ajudavam o morto a virar divindade", afirma Cecilia McCallum. "Era um último ato de piedade e de amor." José Augusto se lembra de tudo. Muito bem.

A língua do Brasil

[fonte: Revista SuperInteressante, dezembro de 1998]

O tupi, primeiro idioma encontrado pelos portugueses no Brasil de 1500, ainda resiste no nosso vocabulário. Agora tem gente querendo vê-lo até nas escolas. Em pleno século XXI.

Por Claudio Angelo

No auge de sua loucura, o ultranacionalista personagem de Triste Fim de Policarpo Quaresma, livro clássico de Lima Barreto (1881-1922), conclamava seus contemporâneos a abandonar a língua portuguesa em favor do tupi. Hoje, 83 anos depois da publicação da obra, o sonho da ficção surge na realidade. O novo Policarpo é um respeitado professor e pesquisador de Letras Clássicas da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Navarro. Há dois meses, ele fundou a Tupi Aqui, uma organização não-governamental (ONG) que tem por objetivo lutar pela inclusão do idioma como matéria optativa no currículo das escolas paulistas. "Queremos montar vinte cursos de tupi em São Paulo no ano que vem", disse à SUPER. O primeiro passo já está dado: em maio, Navarro lançou o seu Método Moderno de Tupi Antigo e, em setembro, colocou nas livrarias Poemas — Lírica Portuguesa e Tupi de José de Anchieta (ambos pela Editora Vozes), edição bilíngüe de obras do primeiro escritor em língua tupi (veja na página 83).

À primeira vista o projeto parece birutice. Só que há precedentes. Em 1994, o Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro aprovou uma recomendação para que o tupi fosse ensinado no segundo grau. A decisão nunca chegou a ser posta em prática por pura falta de professores. Hoje, só uma universidade brasileira, a USP, ensina a língua, considerada morta, mas ainda não completamente enterrada.

Em sua forma original, o tupi, que até meados do século XVII foi o idioma mais usado no território brasileiro, não existe mais. Mas há uma variante moderna, o nheengatu (fala boa, em tupi), que continua na boca de cerca de 30 000 índios e caboclos no Amazonas. Sem falar da grande influência que teve no desenvolvimento do português e da cultura do Brasil. "Ele vive subterraneamente na fala dos nossos caboclos e no imaginário de autores fundamentais das nossas letras, como Mário de Andrade e José de Alencar", disse à SUPER Alfredo Bosi, um dos maiores estudiosos da Literatura do país. "É o nosso inconsciente selvagem e primitivo."

Todo dia, sem perceber, você fala algumas das 10 000 palavras que o tupi nos legou. Do nome de animais, como jacaré e jaguar, a termos cotidianos como cutucão, mingau e pipoca. É o que sobrou da língua do Brasil.

Tradução do diálogo acima:

Índio: "Você conhece a minha língua?"

Bandeirante: "Sim. conheço! Sou um grande falador dela!"

Do Ceará a São Paulo, mudavam só os dialetos

Quando ouvir dizer que o Brasil é um país tupiniquim, não se irrite. Nos primeiros dois séculos após a chegada de Cabral, o que se falava por estas bandas era o tupi mesmo. O idioma dos colonizadores só conseguiu se impor no litoral no século XVII e, no interior, no XVIII. Em São Paulo, até o começo do século passado, era possível escutar alguns caipiras contando casos em língua indígena. No Pará, os caboclos conversavam em nheengatu até os anos 40.

Mesmo assim, o tupi foi quase esquecido pela História do Brasil. Ninguém sabe quantos o falavam durante o período colonial. Era o idioma do povo, enquanto o português ficava para os governantes e para os negócios com a metrópole. "Aos poucos estamos conhecendo sua real extensão", disse à SUPER Aryon Dall’Igna Rodrigues, da Universidade de Brasília, o maior pesquisador de línguas indígenas do país. Os principais documentos, como as gramáticas e dicionários dos jesuítas, só começaram a ser recuperados a partir de 1930. A própria origem do tupi ainda é um mistério. Calcula-se que tenha nascido há cerca de 2 500 anos, na Amazônia, e se instalado no litoral no ano 200 d.C. "Mas isso ainda é uma hipótese", avisa o arqueólogo Eduardo Neves, da USP.

Três letras fatais

Quando Cabral desembarcou na Bahia, a língua se estendia por cerca de 4 000 quilômetros de costa, do norte do Ceará a Iguape, ao sul de São Paulo. Só variavam os dialetos. O que predominava era o tupinambá, o jeito de falar do maior entre os cinco grandes grupos tupis (tupinambás, tupiniquins, caetés, potiguaras e tamoios). Daí ter sido usado como sinônimo de tupi. As brechas nesse imenso território idiomático eram os chamados tapuias (escravo, em tupi), pertencentes a outros troncos lingüísticos, que guerreavam o tempo todo com os tupis. Ambos costumavam aprisionar os inimigos para devorá-los em rituais antropofágicos. A guerra era uma atividade social constante de todas as tribos indígenas com os vizinhos, até com os da mesma unidade lingüística.

Um dos viajantes que escreveram sobre o Brasil, Pero Magalhães Gândavo, atribuiu, delirantemente, a belicosidade dos tupinambás à língua. "Não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, pois assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei e, desta maneira, vivem sem justiça e desordenadamente", escreveu em 1570. Para os portugueses, portanto, era preciso converter os selvagens à fé católica, o que só aconteceu quando os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil, em 1553. Esses missionários se esmeraram no estudo do tupi e a eles se deve quase tudo o que hoje é conhecido sobre o idioma.

Também, não havia outro jeito. Quando Portugal começou a produzir açúcar em larga escala em São Vicente (SP), em 1532, a língua brasílica, como era chamada, já tinha sido adotada por portugueses que haviam se casado com índias e por seus filhos. "No século XVII, os mestiços de São Paulo só aprendiam o português na escola, com os jesuítas", diz Aryon Rodrigues. Pela mesma época, no entanto, os faladores de tupi do resto do país estavam sendo dizimados por doenças e guerras. No começo daquele mesmo século, a língua já tinha sido varrida do Rio de Janeiro, de Olinda e de Salvador, as cidades mais importantes da costa. Hoje, os únicos remanescentes dos tupis são 1 500 tupiniquins do Espírito Santo e 4 000 potiguaras da Paraíba. Todos desconhecem a própria língua. Só falam português.

O tupi e outras línguas de sua família.

É comum ver políticos do hemisfério norte confundindo o Brasil com a Argentina e o espanhol com o português. Pois a mesma confusão é feita, aqui no Brasil, com as línguas dos índios. Poucos sabem, mas é errado dizer que os índios falavam tupi-guarani. "Tupi-guarani é uma família lingüística, não um idioma", explica o lingüista Aryon Rodrigues. Ele a compara à família neolatina, à qual pertencem o português, o espanhol e o francês. Os três têm uma origem comum, o latim, mas diferem uns dos outros. O extinto tupi antigo, o ainda usadíssimo guarani moderno — falado por quase

5 milhões de pessoas no Paraguai e 30 000 no Brasil — e outros 28 idiomas derivam de uma mesma fala, o proto-tupi. Os guaranis e os tupis até que se entendiam. Mas, dentro da família, eles são apenas parentes próximos, não irmãos. Para perguntar "qual é o seu nome", um guarani diria Mba’eicha nde r’era?, e um tupiniquim, Mamõ-pe nde r’era?. Não dá para confundir, dá?

Joseph de Anxieta, mais tarde José de Anchieta (1534-1595), sempre foi poliglota. Nascido nas Ilhas Canárias, era filho de pai basco e aprendeu, ao mesmo tempo, o castelhano e o complicado idioma paterno. Adolescente, mudou-se para Portugal, onde estudou o português, o latim e o grego.

Por tudo isso, não é de espantar que Anchieta tenha aprendido o tupi tão depressa. Seus companheiros diziam que ele tinha facilidade porque a língua era igualzinha ao basco que assimilara quando pequeno. Bobagem. Tão logo pôs os pés no Brasil, em 1553, aos 19 anos, começou a desenvolver a primeira gramática da língua da terra. Em 1560, sua Arte de Grammatica da Lingoa Mais Vsada na Costa do Brasil já era um best-seller entre os jesuítas. O livro, que só seria impresso em 1595, virou leitura de cabeceira dos jovens padres encarregados da catequese. Com ele, nascia o tupi escrito, que Anchieta usou para compor mais de oitenta poemas sacros e peças de teatro, inaugurando a literatura brasileira.

O português foi imposto por decreto

Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem "a língua geral dos índios", pois "aquela gente não se explica em outro idioma".

Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo de Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como "um bárbaro que nem falar sabe". Em suas andanças, essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua.

"Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes", conta o historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. "Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas." O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de tupi facilitado.

No Maranhão e no Pará também surgiu uma língua geral, o nheengatu, cruzamento do dialeto tupinambá com idiomas indígenas da Amazônia. O nheengatu imperou em Belém e São Luís até os idos de 1750 e chegou a ser ensinado pelos jesuítas, junto com o português. Foi adotado até por índios de línguas dos troncos jê, aruak e karib, que acabaram esquecendo seu modo de expressão original.

Coisa do diabo

Irritado com o uso generalizado das línguas nativas, o Marquês de Pombal (1699-1782), que então governava Portugal e suas colônias, resolveu impor o português na marra, por decreto, em 1758. Num documento maluco, o Alvará do Diretório dos Índios, proibiu o uso de todas as línguas indígenas e o ensino do nheengatu, "invenção diabólica" dos jesuítas. No ano seguinte, vilas de toda a Amazônia foram rebatizadas com topônimos portugueses. Surgiram, assim, Santarém e Óbidos no Pará, Barcelos e Moura no Amazonas.

A briga culminaria com a expulsão dos jesuítas, em 1759. "Mas a língua geral não sumiu de imediato", observa o etno-historiador José de Ribamar Bessa Freire, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "O português só veio se firmar no final do século passado, quando os nordestinos migraram em massa para a Amazônia, atrás da borracha." Hoje, o uso daquela língua geral se restringe à região do alto Rio Negro e a um pedaço da Venezuela.

Como os índios, o tupi chegou ao final do século XX. Modificado, reduzido, mas ainda respirando. Da próxima vez que alguém chamar o Brasil de tupiniquim na sua frente, orgulhe-se. O país deve muito aos tupis. E até fala um pouquinho da língua deles.

Além de influenciar o português brasileiro, o tupi transbordou para outras línguas. Os índios bororos, do Mato Grosso, até hoje chamam anta de tapira e tesoura de piraia (piranha), palavras de origem tupi introduzidas pelos bandeirantes. Mas a língua também chegou à Europa. Os franceses, que ocuparam o Rio de Janeiro por vinte anos (de 1555 a 1575), carregaram um monte de palavras nativas. Foram tantas que um padre francês, Constantin Tastevin, elaborou no século XVI um dicionário dos tupinismos franceses. Veja alguns dos que ainda sobrevivem:

acajou (caju) - de acaîú

ananas (abacaxi) - de na’na

boucan (carne defumada) - de moka’em

jaguar (onça) - de jagûara

manioc (mandioca) - de mandi’oka

petun (tabaco) - petyma

tapir (anta) - tapi’ira

Para saber mais

Línguas Brasileiras — Para o Conhecimento das Línguas Indígenas, de Aryon Dall’Igna Rodrigues. Edições Loyola, São Paulo, 1994.

Negros da Terra — Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo, de John Manuel Monteiro. Companhia das Letras, São Paulo, 1994.

Ascensão e queda de um idioma.

Século XVI

O tupi, principalmente o dialeto tupinambá, que ficou conhecido como tupi antigo, é falado da foz do Amazonas até Iguape, em São Paulo. Em vermelho, você vê os grupos tapuias, como os goitacás do Rio de Janeiro, os aimorés da Bahia e os tremembés do Ceará, que viviam em guerra com os tupis. De Cananéia à Lagoa dos Patos fala-se o guarani.

Séculos XVII/XVIII

O extermínio dos tupinambás, a partir de 1550, a imigração portuguesa maciça e a introdução de escravos africanos praticamente varre o tupi da costa entre Pernambuco e Rio de Janeiro. Em São Paulo e no Pará, no entanto, ele permanece como língua geral e se espalha pelo interior, levado por bandeirantes e jesuítas.

Século XX

O português se consolida a partir da metade do século XVIII. O tupi antigo desaparece completamente, junto com outras línguas indígenas (das 340 faladas em 1500, sobrevivem, hoje, apenas 170). A língua geral da Amazônia, o nheengatu, continua sendo falada no alto Rio Negro e na Venezuela por cerca de 30 000 pessoas.

Uma língua que só expressa o concreto.

Em tupi, todos os verbos no infinitivo são substantivos.

Assim, nhe’enga é "a fala", e não "falar". O verbo só vai existir se estiver ligado a uma pessoa. Como em ere-nhe’eng, ou "tu falas".

A realidade ajuda a criar conceitos abstratos.

"Silêncio", por exemplo, é kirir˜i, inspirado no cri-cri dos insetos na mata, à noite.

Elementos da natureza nunca são ligados à idéia de posse.

Você diz xe py (meu pé) ou xe u’uba (minha flecha), mas nunca faz o mesmo para elementos da natureza. Em tupi, não se diz nde ybyrá (tua árvore), mas somente ybyrá (árvore).

Não existe tempo verbal. Todos os verbos estão no passado.

Para dizer "eu saio" e "eu saí" a expressão é a mesma: a-sem.

O dia de hoje não é um período de tempo, mas um lugar iluminado pelo sol.

Para se falar hoje, diz-se Kó ‘ara pupé (dentro desta claridade), expressão que poderia ser desenhada como abaixo.